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IFMT concede 1º título de Doutora Honoris Causa a líder chiquitana de Vila Bela

Publicado por: Campus Pontes e Lacerda / 22 de Agosto de 2023 às 16:51

O Instituto Federal de Mato Grosso concedeu o primeiro título de Doutora Honoris Causa da história da instituição, nesta terça-feira (22), em sessão pública na Câmara de Vereadores do município de Vila Bela da Santíssima Trindade, no extremo oeste do estado do Mato Grosso, na divisa com a Bolívia. A homenageada foi a representante da Associação Étnica Cultural Chiquitana Vanda Copacabana Vilasboas, pelos relevantes trabalhos prestados em prol do povo tradicional chiquitano, além de ser voz ativa na luta pelos direitos e visibilidade da comunidade.

Doutor Honoris Causa é o título mais importante concedido pela Universidade ou Instituto Federal, aprovado em sessão do Conselho Superior. Pode ser atribuído a personalidade eminente, nacional ou estrangeira, que tenha se destacado singularmente por sua contribuição à cultura, à educação ou à Humanidade. Por motivo honorífico, para render homenagem, é concedido o título em grau universitário a pessoas ilustres, independentemente de seu nível de instrução.

Reitor do IFMT, Julio César dos Santos destacou a resiliência da agora Dr.ª h. c. Vanda. “Esse título concedido representa uma homenagem à vida, pois a senhora é um exemplo para todos nós. Anteriormente, nos disse nesse púlpito: ‘durante a minha vida sofri todos os tipos de violência possíveis. Mas não reclamo, eu enfrento os desafios. Todos os que a vida me colocou, eu enfrentei e enfrento de cabeça erguida’. E mesmo diante dessa condição, dona Vanda se levantou e foi lutar pelos outros, pelas outras pessoas. É um ato de imensa generosidade e resiliência que nos dá grandes motivos para admirá-la enquanto ser humano e exemplo para cada um de nós”, declarou na audiência.

Emocionada e com a voz embargada, a Sra. Vanda saudou a todos na língua chiquitana, falou dos desafios enfrentados na comunidade, do apoio recebido especialmente do Movimento Negro, e da gratidão em receber a honraria.

“A emoção é muito grande, faltam palavras para me expressar. Agradeço muito ao Instituto Federal de Mato Grosso por esse reconhecimento, nossas autoridades locais que nos abraçaram desde quando nos levantamos e encampamos esse trabalho (…) e por isso, ele cresceu muito. Se fôssemos sozinhos, não chegaríamos a lugar algum. Só tenho a agradecer, estou à disposição. Tenho orgulho de falar da minha história”.

Prefeito de Vila Bela, Jacob Andre Bringsken reforçou a história de luta da homenageada e a celebração, no último dia 8 de agosto, dia da Conscientização e Comemoração da Chiquitania e Vila Bela.

“Quando tive a oportunidade de conversar com a dona Vanda, entendi a importância da luta dela em defesa do povo chiquitano, das tradições, da cultura. Agradeço de coração ao Instituto por dar essa homenagem justa à nossa representante maior do povo chiquitano. Muito me orgulha termos agora a Dr.ª Vanda, de fato e de direito”.

Histórico -  Vanda Copacabana Vilasboas nasceu em 03/01/1966 na Fazenda Copacabana do Servo, na Comunidade Palmarito, a 90 quilômetros de Vila Bela, filha de Evandro Vilasboas, lavrador, e Júlia Soares Pedraça, dona de casa. Aos 6 anos de idade foi levada a Bolívia, mas não pelos seus pais, passando a estudar e tendo contato expressivo com a cultura boliviana. Durante a adolescência, passou a questionar a sua identidade, e ao perceber a diferença cultural existente, começou então a busca pelo reconhecimento.

À medida que os anos se passavam, surgiu o desejo de reencontrar os pais biológicos. Em 1980 dona Vanda Copacabana retornou a Vila Bela, os reencontrou e permaneceu junto deles. Mas foram necessárias adaptações, entre elas a língua, já que pela vivência na Bolívia, falava apenas o espanhol. Passou a estudar na Escola Estadual Verena Leite de Brito, finalizando nesta unidade o ensino médio.

Em 1982, conheceu Altair Carneiro Barbosa da Silva, firmando uma união estável. Teve quatro filhos: Divino Altair; Dalben Altair; Diurcely Carolina e Dalker Altair. Além de esposa e mãe, se dedicava a serviços de culinária, fazendo salgados para vender, entre eles a famosa saltenha, típica da culinária chiquitana.

Ao fazer as vendas, quando ia às comunidades na divisa com a Bolívia, em especial Palmarito, Vanda Vilasboas começou a perceber que não tinha as mesmas características dos demais moradores, os quilombolas ou brancos. Então percebeu que um grupo de pessoas se identificava com ela, mas tinha uma cultura muito particular e própria.

Dessa forma, o movimento Chiquitano, em Vila Bela, teve início em 1999, encabeçado pela própria, por meio do Chá Afro, coordenado por Nemézia Profeta Ribeiro, liderança negra local.

Também compuseram a mesa de honra da solenidade o pró-reitor de Extensão do IFMT, Marcus Taques; o pró-reitor de Pesquisa e Inovação do IFMT, Epaminondas Matos Magalhães; o presidente da Câmara de Vereadores de Vila Bela, Elias Conceição e a diretora-geral do Campus Pontes e Lacerda Fronteira Oeste do IFMT, Vanderluce Moreira Machado.

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